TÍTULO DO SIMPÓSIO:
Pesquisas contemporâneas sobre migrações italianas: métodos, tecnologias e perspectivas interdisciplinares
Adriana Marcolini - Doutora/USP
As autobiografias A Longa Trilha Azul, de Fulvia Di Segni, e Ninguém se livra de seus fantasmas, de Nydia Licia, trazem o relato de duas judias triestinas que deixaram a cidade natal após a promulgação das leis raciais por Benito Mussolini, em 1938. Os dois livros têm alguns pontos em comum: a cidade natal, a fuga provocada pelo antissemitismo, a iminência da guerra que se aproximava, o olhar feminino, a idade precoce da emigração e a cidade de São Paulo, na qual se estabeleceram.
Proponho analisar as duas autobiografias à luz do chamado «pacto autobiográfico» entre autor e leitor, definido por Philippe Lejeune, e das reflexões de Pierre Bourdieu em A Ilusão Biográfica. Os estudos de Ecléa Bosi sobre a memória, e de Maurice Halbwachs, sobre a memória coletiva, também serão utilizados como fundamento para a análise das obras.
A perturbação e a ruptura do equilíbrio são causadas pela experiência da emigração, que representa o ponto de viragem entre a identidade do passado e a outra a reconstruir. Esta dicotomia reflete-se no texto numa separação nítida entre o período vivido no país de origem e aquele vivido no país adotado. A definição da própria identidade é um dos motores da escrita autobiográfica do emigrante. A pessoa que emigra passa por um processo de identificação étnica, cultural e social com tensões e conflitos gerados pela sensação de ser «outro» em relação à nova sociedade e pela necessidade de mudar para se adaptar.
PALAVRAS-CHAVE: Autobiografias; Trieste; Mulheres; Brasil.
REFERÊNCIAS:
SEGNI, Fulvia di. A Longa Trilha Azul. São Paulo: edição independente, s/data.
LICIA, Nydia. Ninguém se livra de seus fantasmas. São Paulo: Perspectiva, 2002.
BOSI, Ecléa. Lembranças de velhos. São Paulo: T.A. Queiroz Editor, 1979.
BORDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: Usos e abusos da história oral. Org.: Marieta de Moraes Ferreira e Janaína Amado. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Edições Vértice/Editora Revista dos Tribunais, 2000.
LEJEUNE, Philippe. O Pacto Autobiográfico. De Rousseau à Internet. Org: Jovita Maria Gerheim Noronha. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.