Propostas aceitas - XXI Congresso ABPI

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

Do silenciamento à palavra: estudo e tradução de escritoras contra imaginários misóginos da tradição literária Italiana

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

A devastação nas relações mãe e filha na obra "Um amor incômodo" de Elena Ferrante

Anna Caroline Garcia Resende - Graduação/UNESP
Christiane Carrijo Eckhardt Mouammar - UNESP

A partir da ideia de uma escrita que se faz nas lacunas, presente enquanto aponta para uma ausência, está a obra de Elena Ferrante. A sua obra de estreia “Um amor incômodo” (2017) chama a atenção por discutir a complexidade das relações mãe e filha, questionando o mito do amor materno como destino inescapável das mulheres (Rapeli, 2019).Por meio da personagem principal, Delia, a obra explora uma relação entre mãe e filha marcada por ambivalências. Sua mãe, Amalia, subverte a noção de uma feminilidade idílica, rompendo com a ideia tradicional do sacrifício materno e apresentando uma figura materna ambígua. A relação entre elas é marcada pelo desejo de afastamento e pela impossibilidade de cortar completamente os laços que as unem; trata-se de um vínculo moldado pelo conflito entre identificação e repulsa, o que reflete os dilemas de uma genealogia feminina carregada de silêncios e violências simbólicas (Silva, 2022). Levando isso em consideração, a obra “Um amor incômodo”, de Elena Ferrante, mostra-se terreno fértil para a investigação do conceito lacaniano de devastação (Lacan, 1992), em especial acerca da constituição das relações mãe-filha. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi identificar e sistematizar, na obra “Um amor incômodo”, como aparece o conceito psicanalítico de devastação. À medida que a obra discute a devastação da relação de Delia e Amalia, torna-se possível observar relações maternas que fogem ao padrão hegemônico, abrindo espaço para debates sobre a diversidade de experiências do feminino e valorizando a construção de subjetividades femininas autônomas. A metodologia utilizada baseia-se no estado da arte e na análise de conteúdo, de forma a utilizar as obras da psicanálise lacaniana para, conjuntamente com os excertos literários de Ferrante, expandir a teoria psicanalítica sobre o feminino e oferecer uma perspectiva crítica à idealização da maternidade na cultura patriarcal.

PALAVRAS-CHAVE: Devastação; Relação mãe e filha; Psicanálise; Elena Ferrante; Literatura.

REFERÊNCIAS:

DANTAS, T. S. Eu, autora – corpo e escrita em fractal: Elena Ferrante, frantumaglia e smarginatura. 2023. Tese (Doutorado em Literatura) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2023.

FERRANTE, E. Frantumaglia: Os Caminhos de uma Escritora. Tradução de Marcello Lino. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

FERRANTE, E. Um Amor Incômodo. Tradução de Marcello Lino. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.

FREUD, S. Feminilidade [1933]. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XXII, p.113-134.

IACONELLI, V. Manifesto Antimaternalista: Psicanálise e Políticas da Reprodução. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.

RAPELI, A. R. R. Entre mistérios e palavras: O feminino em Elena Ferrante. Jornal de Psicanálise, v. 52, n. 97, p.215-223, 2019.

SILVA, E. R. S. Maternidade incômoda e jogos de espelhos femininos na Tetralogia Napolitana de Elena Ferrante. Tese de Doutorado. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em Letras, 2022.