Propostas aceitas - XXI Congresso ABPI

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

Do silenciamento à palavra: estudo e tradução de escritoras contra imaginários misóginos da tradição literária Italiana

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

Giuseppa Eleonora Barbapiccola: uma tradutora entre paratextos e resistências em defesa do pensamento feminino

Karla Ribeiro - Doutora/UFSC

No século XVIII, apesar do papel da mulher e sua capacidade intelectual serem alvo de dúvidas por boa parte da população da época, discutia-se intensamente a educação feminina e o que as mulheres deveriam aprender, como modo de promover o bem estar público e privado, por parte de pensadores iluministas. Na Itália, muitas cidades se orgulhavam de ter ao menos uma mulher de destaque científico nas universidades. Nesse contexto, a República das Letras passou a incluir de modo crescente a presença de mulheres (AGNESI et al., 2005). A Itália foi uma das regiões que mais oportunizou à mulher o acesso ao conhecimento científico, permitindo formação acadêmica a um pequeno número de aristocratas do sexo feminino, as quais representavam exceção à regra de que o sexo feminino não seria capaz de ser educado a discutir filosofia (FINDLEN, 1995). Nesse contexto, surge Giuseppa Eleonora Barbapiccola (~1700–~1740), filósofa cartesiana e tradutora, a qual se destacou por traduzir para o italiano, a partir do francês e do latim, a obra Principia philosophae, de René Descartes, contestando a ideia de que mulheres seriam intelectualmente inferiores, razão pela qual escolheu esse filósofo para traduzir, justamente pela valorização dada por ele ao pensamento feminino. Isso conferiu à Barbapiccola a fama de ter tornado Descartes famoso na Itália O objetivo desta comunicação é destacar, no prefácio escrito por Barbapiccola, o espaço para a voz da tradutora, antecipando o uso crítico dos paratextos. O texto apresenta Descartes como defensor da mente feminina e afirma que compreender filosofia não exigia ser aristocrata, mas era habilidade natural das mulheres. Também são citadas mais de sessenta mulheres influentes do mundo clássico à contemporaneidade, como Cristina da Suécia e Diótima, mestre de Sócrates. A tradução empreendida por Barbapiccola só foi possível porque Descartes reconhecia autoridade intelectual ao pensamento feminino.

PALAVRAS-CHAVE: Giuseppa Eleonora Barbapiccola; Pensamento feminino; Tradução feminina.

REFERÊNCIAS:

AGNESI, Maria Gaetana et al. The context for knowledge: Debates over Women’s Learning in Eighteenth-Century Italy. [Editado e traduzido por Rebecca Messbarger e Paula Findlen]. Chicago; Londres: University of Chicago Press, 2005. 

FINDLEN, Paula; ROWORTH, Wendy W.; SAMA, Catherine M. (org.). Italy’s eighteenth century: gender and culture in the age of the Grand Tour. Stanford: Stanford University Press, 2005.

FINDLEN, Paula. Possessing Nature: Museums, Collecting, and Scientific Culture in Early Modern Italy. Berkeley: University of California Press, 1995.