Propostas aceitas - XXI Congresso ABPI

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

Observando o léxico: os fazeres lexicográficos, fraseológicos, terminológicos, pedagógicos, literários e tradutológicos tangenciados ou permeados pela tecnologia

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

Tradução, estudo lexicológico e tecnologia: análise lexicológica e uso de LLMs em 'O Grande Mentecapto' de Fernando Sabino

Carlos Antônio de Souza Perini - Mestre/UFMG
Maryelle Joelma Cordeiro Mourão - Doutora/UFMG

As recentes tecnologias das Large Language Models (LLMs) (SINHA, 2023), grandes modelos de linguagem em português, são ferramentas que auxiliam muito em processos tradutológicos. Mas vale a pena pensar sobre a reflexão dada por Benjamin (1979, p. 26) quando, para uma tradução, "pergunta-se se a natureza da obra permite uma tradução". No caso de “O Grande Mentecapto” (SABINO, 1979), por usar outras línguas dentro do romance (latim, francês, espanhol) e apresentar elementos quixotescos, mostra um certo interesse pela universalidade da obra; assim, essa preparação, talvez inconsciente pelo autor da obra, motiva a tradução para o italiano. Além disso, a obra foi adaptada para o cinema, uma modalidade de tradução de mudança de código, de símbolos (BASTIANETTO, 2011, p. 78). No entanto, há desafios ‘intraduzíveis’ em trechos da obra sobre os quais se aplicou os LLMs na geração dos equivalentes linguísticos para o italiano. Duas categorias foram cotejadas para esse desafio: i) os substantivos próprios e ii) algumas expressões do mineirês, por meio de Processamento de Língua Natural (PLN) (TOUNSI; ATMAN; WOLF, 2024.; DE MARNEFFE, 2021) e manualmente. Não só linguísticos, mas também desenhos. Essa produção é levada para a versão traduzida do romance com uso de recursos editoriais, como rodapés laterais, e lida junto com alguém com o italiano como língua materna. Trata-se de uma avaliação formativa da obra traduzida durante a leitura. Essa observação se dá entre a recepção do signo (palavra ou caricatura) por um falante nativo de italiano e a sua compreensão (ou reação) de modo que, nesse intervalo, aconteçam as negociações e construções de significados (DE CAMPOS, 2005, p. 38), qualificando a tradução. A escolha adequada do signo na língua alvo com análise da recepção do 'madrelingua' permite uma boa tradução. Em particular, a obra 'O Grande Mentecapto' de Fernando Sabino, o protagonista Geraldo Viramundo possui vários apelidos, percorre muitas cidades mineiras, interage com outras personagens usando expressões dialetais das Minas Gerais ao realizar suas peripécias. As peças linguísticas da obra carregam significados simbólicos e sociais que desempenham papel central na construção do universo narrativo. Isso representa um desafio de tradução da obra como também uma riqueza da diversidade criativa literária do autor e merece ser presenteada para os italianos. Pretende-se também mostrar a análise dos nomes próprios presentes no romance — antropotoponímicos, toponímicos, hipocorísticos e simbólicos — e refletir sobre suas possíveis traduções para a língua italiana. Justifica-se o trabalho pela ausência de estudos sistemáticos, com uma abordagem crítica e teórico-prática, sobre a tradução de antroponímia brasileira para o italiano, especialmente em obras regionalizadas. Nessa comunicação pretende-se apresentar: i) uma análise comparativa de estratégias tradutórias possíveis, com apoio teórico em autores como Jean-Claude Boulanger, Valentini, Vinay e Darbelnet, Umberto Eco e Peter Newmark; ii) Uma amostragem do glossário bilíngue (português–italiano) de nomes relevantes com comentários culturais; iii) Algumas imagens geradas pelas LLMs durante o minicurso 8 (ABPI 2025) na tradução intersemiótica (AUBERT, F. H., 1998, p. 99-128) de apelidos para caricaturas na tentativa de compreender um pouco do funcionamento de tais LLMs, na busca por matizes lexicais ou caricaturais nas traduções e desenhos produzidos por elas.

PALAVRAS-CHAVE: Tradução Literária; Imagens de LLMs; Antropotoponíma; Glossário bilíngue de nomes próprios; Mineirês-italiano

REFERÊNCIAS:

AUBERT, Francis Henrik. Modalidades de tradução: teoria e resultados. TradTerm, São Paulo: Humanitas – FFLCH/USP, v. 5, n. 1, p. 99-128, 1998.

BASTIANETTO, P. 12 retextualizações traduções comentadas – italiano e português. Faculdade de Letras – FALE – UFMG: Viva a Voz, 2011.

BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor. Tradução de Fernando Camacho. Humboldt, Munique, F. Bruckmann, n. 40, p. 38-45, 1979.

BOULANGER, Jean-Claude. Lexicologie et terminologie: vers une théorie unifiée? In: Meta: Journal des Traducteurs. Montreal, v. 41, n. 4, p. 573-582, dez. 1996.

ECO, Umberto. Dire quase la stessa cosa: esperienze di traduzione. Milão: Bompiani, 2003.

NEWMARK, Peter. A Textbook of Translation. London: Prentice-Hall International, 1988.

SABINO, Fernando. O Grande Mentecato. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1979.

SINHA, Anand. Quick Start Guide to Large Language Models: Strategies and Best Practices for Using ChatGPT and Other LLMs. Boston: Addison-Wesley, 2023.

TOUNSI, Lewis; ATMAN, Yacine; WOLF, Thomas; et al. Natural Language Processing with Transformers: Building Language Applications with Hugging Face. 2. Ed. Sebastopol: O’Reilly Media, 2024.

TOURY, G. Descriptive Translation Studies – and beyond. 2nd. Ed. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2012.